- alfabetização -
Proatividade
pela Educação
A nossa luta em defesa da educação pública envolve o debate político-pedagógico.
A Rede Municipal de Educação sempre articulou todos os aspectos em sua luta sindical: condições de trabalho, carreira, concepções pedagógicas.
Destacamos essas questões para falar da importância da luta que nós, professoras, supervisoras e orientadoras educacionais com atuação de pré a quarta-série realizamos.
No final da década de 1980 e início de 1990, organizamos um coletivo que realizou vários debates sobre alternativas educacionais para vencermos as estatísticas da alfabetização.
Naquele período, 50% das crianças não conseguiam alfabetizar no primeiro ano.
O coletivo foi se expandindo nas várias regiões. A professora Matilde, do Centro Pedagógico da UFMG, foi fundamental nesse processo. Nossos estudos nos levaram às reflexões de Emília Ferreiro, Ana Teberosky, Constance Kamii, Vygotsky.
À revelia da SMED, organizamos nossas reuniões pedagógicas, cotizamos o valor do combustível no sentido de garantir a presença da professora Matilde para ajudar-nos na reflexão teórico-prático do fazer pedagógico.
Conversamos com as comunidades escolares sobre a nova metodologia de trabalho. A nova opção repercutia no formato discriminatório de organização das turmas até então. E aprovaram. Apresentaram suas questões. Professora vai estudar, mas vocês já são formadas! Vai misturar as crianças fortes e fracas?
No Cônego, durante todo o primeiro ano de implementação da nova proposta, realizamos debates com a comunidade. E o resultado no final do ano demonstrou que a opção coletiva realizada garantiu que um número maior de crianças aprendesse a ler.
Crescemos muito com esse processo coletivo. Fortalecemos a relação profissional entre nós, as crianças e suas famílias. Passamos a ser uma referência na região de Venda Nova de inovação pedagógica.
Ceres Ribas da Silva, Isabel Cristina Frade, Miriam, Leila, Socorro, Arlete, Walquíria, Arlete Alves Correa, Dorinha, Márcia, Ana Lúcia, Matilde, Helena Nassif, Graça, Stefânia Padilha, foram fundamentais na construção dessa movimentação que marcou o debate educacional na PBH.
- EJA -
Educação
como direito
A luta em defesa da EJA na PBH tem uma longa história. Ela passa pela defesa da ampliação do atendimento nas escolas municipais no noturno da população que ainda não dominava o sistema de leitura e escrita.
O Cônego faz parte dessa história. No final dos anos 1980, a comunidade escolar apresentou a demanda pela EJA no espaço do Cônego. O Colegiado Escolar aprovou então a formação de duas comissões: uma de representantes de pais/mães para fazer o levantamento da demanda de estudantes; a outra de representantes da escola para elaborar o projeto político-pedagógico. A partir das informações coletadas e do projeto elaborado, uma comissão do Colegiado Escolar entrou em contato com a PBH e entidades dos movimentos sociais para a realização do projeto de EJA na escola.
No primeiro momento, o Departamento de Educação da Regional Venda foi contrário ao projeto. Contudo, a comissão conseguiu articular entidades que aceitam financiar o projeto, mas com profissionais voluntários.
Por considerar a necessidade de uma EJA permanente e ampliada para todo o ensino fundamental, o Colegiado considerou que era importante a PBH assumir a garantia do atendimento no espaço público e com profissionais concursados, uma política pública efetiva para a EJA na comunidade.
Conseguimos o compromisso da PBH e até hoje a EJA funciona na escola. E conseguimos, junto com outras escolas, a ampliação das turmas de EJA em várias regiões da cidade.
Importante registrar a participação de Maria Helena, Maria das Graças, Geraldo Rocha, Geralda Rocha, Dulce, Alzira, Elci Madalena, Marília Carneiro, Eva Torres, que no Colegiado Escolar, representando a comunidade e/ou profissionais, se empenharam nessa conquista. E às/aos profissionais que ao longo destas quase três décadas têm realizado o trabalho cotidiano na garantia do direito à EJA no Cônego.
Faço parte desta história de luta no Cônego e na categoria. Nossas ações coletivas ao longo desses anos é que têm impedido as diversas tentativas governamentais de impediram a EJA como direito da população de BH
- família / formação -
Atrever-se a viver
Minha mãe sempre contava histórias da escola.
Era apaixonada pelo conhecimento. A pessoa com mais escolaridade na ocupação que morávamos.
Meu pai era autodidata. Era mestre de obra. Lembro do livro que gostava, o Leviatã, de Hobbes. Todos os dias meu pai, quando chegava do serviço, me perguntava o que eu tinha aprendido de novo. Minha mãe lia a revista Cruzeiro em voz alta com meu irmão e eu sentados em volta dela. Mostrava o que acontecia no mundo. Para uma menina como eu, que nasceu numa ocupação urbana no bairro Cachoeirinha, conhecida como Vila dos Atrevidos, chegar ao ensino superior não foi fácil. Era a filha mais velha e precisei trabalhar e estudar ao longo da minha vida. Trabalhei como empregada doméstica dos 10 aos 15 anos para ajudar a pagar a escola. Nem todos se lembram, mas o acesso à educação pública e gratuita é uma conquista recente. Antes, havia prova nas escolas públicas e não havia vagas para todos os estudantes. Os livros eram usados. Quem tem mais de cinquenta anos vai se lembrar dos livros da Galeria Ouvidor.
Fiz o magistério no Instituto de Educação, de 1978 a 1980, trabalhando na faxina da igreja e depois no comércio, como balconista, office-girl, faturista. Em 1982 entrei na UFMG, no curso de Pedagogia. Nesse período ainda trabalhei no comércio, como auxiliar de escritório e contabilidade, depois como divulgadora de livros e no final do curso fui chamada para assumir o cargo de Professora da Rede Municipal de Belo Horizonte. Em 1996 concluí o Mestrado em Educação na FaE/UFMG, e em 2009, o Doutorado em Educação na FEUSP. Sou professora aposentada da PBH e trabalhei na Universidade do Estado de Minas Gerais durante 18 anos, formando docentes.
- moradia/reforma agrária -
Morando na luta
Algumas pessoas podem achar estranho uma professora da educação básica e da universidade estar junto com quem luta pela moradia na cidade e no campo. Amiga e amigo, sim, eu já tenho casa e NÃO estou lutando por outra. Estou junto na luta. Explico algumas razões disso:
Eu nasci na Vila dos Atrevidos, conhecida como VDA, uma ocupação urbana na região do bairro Cachoeirinha em Belo Horizonte. Ainda menina, conheci a tristeza de não ter casa.
Por isso, jamais poderei pensar que, pelo fato de hoje ter uma residência comprada e paga, a luta pela moradia é algo apenas do meu passado. A luta pela casa, na cidade e no campo, é mais atual do que nunca.
O déficit habitacional no Brasil era perto de 5,877 milhões em 2019. Os projetos habitacionais atuais andam devagar diante da necessidade e urgência de construção de novas residências.
A falta de respeito é tão grande que muitos governos locais tentam promover a destruição das casas de ocupações perto do Natal, quando o restante da população está mais atento às festas.
Outra razão de estar junto com o movimento popular pela moradia e pela reforma agrária é que, desde cedo, engajei-me nas lutas socialistas. Assim, sei que casa e teto são palavras que expressam uma das condições básicas para a construção da dignidade humana.
A luta pela moradia e pela reforma agrária continuam a mobilizar e sensibilizar minhas energias por ser um movimento-escola. Elas ensinam que a conquista da dignidade só é possível se feita em conjunto, em coletivo.
O movimento é uma experiência de coletividade que marca as vidas de crianças, jovens, mulheres, homens, idosos e todas/os que lutam juntas/os.
Lutar é minha vida. Por isso, estou junto com as ocupações urbanas por experiência de vida, por ser mais uma indignada com a falta de respeito para com quem não tem casa. Por isso, participo da rede de solidariedade das ocupações no campo, por acreditar no sonho socialista da dignidade humana e por saber que as mudanças só virão pelas mãos da luta coletiva.
A luta por justiça, terra, pão e paz não é só de quem não tem teto. É minha e também é sua. Deixe essa causa sensibilizar você.
- mulheres/feminismo/educação
Chão de luta,
chão de Escola
Antes de ser professora, fui militante dentro da Igreja Católica, participando do grupo de jovens na Paróquia São Pio X, no bairro Santa Cruz e na Pastoral da Juventude, na Coordenação Diocesana. Quando assumi meu cargo de professora na PBH me aproximei do movimento sindical. Da militância na educação, a partir da UTE, SindUTE e SindREDE/BH, SindUEMG, fomos conhecendo companheiras e companheiros de vários movimentos sociais da cidade e do campo.
Participei da direção da CUT Grande BH, CUT Minas e CUT Nacional. Sempre buscando articular a luta feminista com as lutas gerais da classe trabalhadora. Não há revolução sem feminismo. A defesa da democratização da escola e da carreira profissional, em destaque a carreira docente unificada, é o que mais marcou a luta da minha geração na educação. Conquistamos a participação popular através dos Colegiados e Assembleias Escolares e as eleições para as direções de escola. Na Rede Municipal de BH conquistamos o pagamento por habilitação em 1990 e a carreira unificada em 1996. Enfrentamos a ruptura da carreira em 2003, com a criação do cargo de Educador Infantil, e desde 2004, vamos re-conquistando em cada greve a reunificação da nossa carreira.
Carreira docente unificada é a expressão do enfrentamento ao machismo institucional que discrimina o trabalho docente com as crianças pequenas. É enfrentar o controle do trabalho feminino que diferentes gestões buscam realizar desqualificando o nosso saber pedagógico, o nosso conhecimento teórico. Faz parte da trajetória política da diferentes gerações da luta sindical da educação a reflexão cotidiana sobre o trabalho, o fazer pedagógico e as implicações das políticas econômicas e sociais no chão da escola.
Alma de revolução
Ser #feminista é lutar pelos direitos humanos de todas nós mulheres. Ser feminista é lutar contra a violência sexista presente em nosso cotidiano. Ser feminista é lutar contra o patriarcado e o capitalismo, sistemas que nos oprimem e matam cotidianamente.
Comecei a participar do movimento feminista em BH na década 1980 e desde então não parei. Participei da Comissão regional, estadual e nacional de Mulheres da CUT e da construção da Marcha Mundial de Mulheres no Brasil. Tive a oportunidade de participar de diversos encontros no Brasil e no mundo.
Em sequência: 1) Participação das Mulheres do PT nas lutas gerais, na década de 1980; 2) Encontro Feminista da América Latina e Caribe no Chile, 1996; 3) Encontro de Mulheres da Confederación Internacional de Organizaciones Sindicales Libres, na Holanda, em 1996; 4) Encontro Nacional de Mulheres Brasileiras em 1995, no Rio de Janeiro; 5) Encontro de Mulheres Sindicalistas do Mercosul, no Brasil, em 1997; 6) Encontro Estadual do Coletivo de Mulheres do SindUte, na Escola Sindical 7 de outubro, em 1997.
NA SEQUÊNCIA DAS FOTOS: 1) Participação das Mulheres do PT nas lutas gerais, na década de 1980; 2) Encontro Feminista da América Latina e Caribe no Chile, 1996; 3) Encontro de Mulheres da Confederación Internacional de Organizaciones Sindicales Libres, na Holanda, em 1996; 4) Encontro Nacional de Mulheres Brasileiras em 1995, no Rio de Janeiro; 5) Encontro de Mulheres Sindicalistas do Mercosul, no Brasil, em 1997; 6) Encontro Estadual do Coletivo de Mulheres do SindUte, na Escola Sindical 7 de outubro, em 1997.
- plano de carreira -
Só a luta
garante a vida
Juntamente com outras professoras e lideranças lutamos pela implementação do Plano de Carreira da Educação na Rede Municipal de Belo Horizonte..
O governo Azeredo, em 1991, separou a carreira do magistério do quadro geral dos servidores municipais, provocando um novo achatamento salarial dos/as professores/as, pois o cálculo salarial com base no nível mais alto do funcionalismo deixava de existir.
Em seguida, veio a luta pela redução da diferença salarial entre docentes com curso superior e docentes com magistério de nível médio. Conseguimos, após várias lutas, a proporção de 60% do salário para a formação de Magistério de Nível Médio em relação ao salário da formação de nível superior.
Em 1996, no debate sobre Plano de Carreira da Educação, a PBH apresentou uma proposta de três cargos distintos de professor/a: formação de magistério de nível médio para os anos iniciais do ensino fundamental; formação de nível superior para os anos iniciais do ensino fundamental e formação de nível superior para anos finais do ensino fundamental.
Cientes que a luta, garante sim a conquista de direitos, fizemos uma grande mobilização pela carreira docente unificada, com a manutenção do pagamento por habilitação. Ou seja, o direito de progredir na carreira pela formação acadêmica. Nossa pressão fez o governo Patrus assumir o compromisso de enviar à Câmara Municipal, o projeto de lei com a definição de carreira votada pela categoria.
Realizamos um grande debate na Rede Municipal e conseguimos aprovar com 75% a carreira docente unificada. Uma conquista importante para a qualidade do ensino, que tivemos a honra de participar.
Ela foi rompida em 2003, com a criação do cargo de Educador Infantil. Vamos falar disso depois, em outra postagem.
Tenho muito orgulho de ter participado com essa mulherada de luta desta conquista.